10/09/2013

Petróleo: contra o jogo sujo dos EUA, joguemos o nosso, e já



Fernando Brito
No Tijolaço
O centro desse jogo não é a NSA, nem a CIA, nem Snowden, nem mesmo criptografia, “backdoors”, metadados. Nem mesmo Chevron, Exxon, Shell…
Isso são peças do cenário, só parte do enredo do drama.
O drama chama-se geopolítica.

Tão velha quanto a civilização humana.



Aquela dominação que nos tentaram fazer esquecer quando decretaram o “fim da história” e tornaram o mundo unipolar, com a falsa ideia de que os conflitos, agora, eram apenas entre democracias e tiranias.

Como se a dominação econômica, motor dos impérios em todos os séculos, tivesse, subitamente, se dissolvido no ar, éramos um só mundo, irmanado.
Pois quem se dissolveu, mesmo, foi essa fantasia, que viveu seu último momento na eleição de Barack Obama, o homem que ia dar fim a todas as guerras, prolongou-as e, agora, está prestes a fazer o seu “debut” como valente general de mísseis teleguiados.

Embora visivelmente decadente, o ciclo de hegemonia econômica norte-americana, incontrastável deste a II Guerra, não se desfará da mesma maneira quase espontânea com que os fatos fizeram à ilusão de “um único mundo”.

Não é mais possível, como nos tempos da Guerra Fria, imaginar que os países deixem a vassalagem aos interesses econômicos americanos para se abrigarem em outro bloco.

Não apenas não existe outro bloco como a história provou que isso não conduziu, nos países que o fizeram, a situações artificiais, a divisões internas e à estagnação e ao atraso econômico, embora não às desumanas carências sociais em que os regimes americanófilos fizeram ou mantiveram por toda parte do mundo, com o beneplácito dos EUA.

Nosso desafio é o desenvolvimento econômico e ele já se mostrou inseparável da justiça e do ascenso social no Brasil.

O destino nos colocou ao alcance das mãos, pelos longos braços das perfuratrizes da Petrobras, uma imensa riqueza em petróleo.
Ela é um tesouro que não pode permanecer enterrado, numa espera que atiça e açula as ambições que quem nos quer pirateá-los e o vê por seus óculos de alcance cibernéticos.

Não pode, porque o povo brasileiro precisa dele para arrancar-se do atraso e não pode porque, jazendo ali, à espera que voltem os que querem cavá-los a picaretas, para entregá-lo, como fizeram os vendilhões que tentaram destruir a Petrobras.
É preciso que esta Nação compreenda – e isso só ocorrerá se falarmos por mil vozes, e a cada minuto – que precisamos de alianças estratégicas que se consumam no plano empresarial mas que são, no fundo, encontros estratégicos com as nações que também lutam para por o pescoço de fora da submersão colonial.

Um encontro como o que ocorreu entre os Brics, dos quais dois – China e Índia – são fortemente dependentes do petróleo que o pré-sal fará abundante aqui. Um deles, a China, tem sobras de capital que trocará, de bom grado, por fornecimento futuro do óleo que teremos de exportar.

A espionagem americana sobre o pré-sal, ao contrário de nos paralisar, deve acelerar nosso processo de busca pelas parcerias necessárias a garantir a plena hegemonia da Petrobras na exploração do pré-sal, muitíssimo além dos 30% que a lei já lhe assegura e, ainda mais, tornar mais intensa e veloz a prospecção das áreas ainda não mapeadas, para que saibamos onde temos de nos defender e seletivizar o controle de jazidas.

A declaração de James R. Clapper, diretor da inteligência nacional do governo Obama, no The New York Times, além da desfaçatez de dizer que “não era segredo que o governo dos Estados Unidos coletasse informações sobre questões financeiras”, é de achar que somos idiotas:
- O que nós não fazemos, como já disse muitas vezes, é usar as nossas capacidades de inteligência para roubar segredos comerciais de empresas estrangeiras para que empresas norte-americanas aumentem sua competitividade.

Mr. Clapper, o que todo mundo sabe é que as empresas norte-americana são o meio e o fim de todo o expansionismo americano!

E nós, portanto, temos de ter ciência que, do nosso lado também, as definições empresariais sobre a exploração do pré-sal é que vão definir se ela servirá ou negará os legìtimos interesses nacionais brasileiros.
O jogo geopolítico que ficou claro só pode ser vencido com alianças táticas e estratégicas.

Deixar de fazê-las seria mais do que ingenuidade ou falta de confiança em nossa própria altivez e amor ao Brasil. Seria por a risco de perder-se o tesouro que é do povo brasileiro, mas que ele só terá quando o tirarmos de lá e dos olhos cobiçosos que o espiam, à espera de quando lhe possam por a mão.



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