O golpe contra Dilma: como derrubar um governo com altos índices de aprovação popular usando a massa de manobra das redes sociais e levá-lo sangrando para as eleições de 2014
Por Paulo Jonas de Lima Piva
Os fatos ainda são recentes. A poeira ainda não assentou.
Para ser história, a surpreendente onda de protestos que sacudiu o país no mês de junho precisa de mais esclarecimentos, de mais informações de bastidores que deem sentido ao quebra-cabeça. Portanto, por ora, só especulações. Contudo, é possível entrever na névoa e nos destroços dos acontecimentos que um sórdido golpe político foi dado contra o governo de Dilma Rousseff. No mundo do pós-Guerra Fria, o golpe não é mais dado com tanques e cuturnos nas ruas, nem precisa ser necessariamente um golpe de Estado.
O golpe hoje é mais sutil, mais sofisticado, porém, não menos devastador. Ele é desferido com ares de legalidade e de democracia.
No Paraguai foi assim, sorrateiro, com a derrubada de Fernando Lugo, um presidente de centro esquerda, da noite para o dia, e a pretexto de uma razão técnica constitucional ridícula. No Brasil, a tentativa desse tipo de golpe foi dado contra Lula em 2003, com a fábula do "Mensalão", que não vingou, pois Lula, político hábil, driblou a ameça da farsa do impeachment e se reelegeu.
Saem os militares, entra a tecnologia. O protagonista desse novo tipo de golpe que acertou em cheio o governo Dilma são as máfias midiáticas de cada país onde os meios de comunicação não são regulamentados. Entre nós, onde a máfia midiática brasileira, em nome da "liberdade de imprensa", exerce impunemente sua ditadura, seis ou sete grandes grupos empresariais que oligopolizam a comunicação agem como um partido político, aliás, como o principal partido do setor mais reacionário das elites brasileiras e dos interesses imperialistas.
E foi esse partido de direita, que se apresenta para a sociedade brasileira como uma irmandade de veículos isentos, imparciais, apartidários e objetivos, comprometidos com a democracia e o progresso social, batizado na blogosfera de PIG, Partido da Imprensa Golpista, que iniciou, de maneira muito oportunista, um processo de corrosão e de hemorragia política do governo Dilma, o qual só acabará com o término das eleições presidenciais do ano que vem. E o estopim desse processo foram as manifestações dos politizados e puros estudantes do Movimento Passe Livre (MPL).
Aparelhado pelo PSOL, pelo PSTU e pelo PCO, o "apartidário" e sectário MPL foi para cima do prefeito Fernando Haddad, recém-eleito, como se este fosse um Gilberto Kassab. Intransigente na defesa das suas reivindicações, o MPL enfrentou nas ruas da capital paulista a despreparada polícia do tucano Geraldo Alckmin, que tentou dispersar as manifestações da pior maneira possível.
E como a opinião pública brasileira se comove mais com cenas televisivas de jovens brancos de classe média estudantes da USP levando borrachada da polícia do que com cenas televisivas de jovens trabalhadores pardos e negros da periferia assassinados, uma erupção de indignação tomou, primeiramente, as redes sociais e depois as ruas.
A máfia midiática, que antes era contrária às manifestações, passou então não só a glamourizá-las, como a incentivar a sua radicalização, sobretudo quando o alvo fosse o governo Dilma e o PT. A grande mídia e a pior direita brasileira perceberam que aquela era uma oportunidade única de levar à lona um governo que até então tinha altos índices de aprovação popular e que, por conta disso, sua candidata à reeleição poderia vencer as eleições presidenciais de 2014 já no primeiro turno.
Os telejornais, capas de revista, manchetes de jornais e noticiários de rádio tornaram-se então nitroglicerina pura. Passaram a jogar gasolina numa onda incendiária.
Os protestos ganharam força, alastraram-se por todo o país e atingiram o seu ápice com a tomada do Congresso Nacional por populares. A expectativa desses estimuladores do quanto pior melhor era que Dilma reprimisse os protestos com muitos cadáveres.
Se isso ocorresse, a justificativa para um impeachment ou para uma pressão para uma renúncia (na prática, um golpe de Estado hipócrita) seria irretorquível. Felizmente, a índole e a experiência democráticas da presidenta frustaram esses desejos fascistas.
Recuemos um pouco na história para lançar luz no furacão político que varreu o Brasil. Como reação às desgraças sociais provocadas por governos neoliberais, da segunda metade dos anos noventa para cá os principais países da America Latina passaram a ser governados por projetos de centro esquerda, encarnados por personalidades como Hugo Chávez, Rafael Correa, Evo Morales, Lula, Cristina Kirchner entre outros. Com isso, a influência norte-americana no continente ficou bastante debilitada.
Sem o pretexto da Guerra Fria, os EUA precisam ser mais sorrateiros nos seus planos para desestabilizar os governos latino-americanos que não mais se curvam aos seus interesses.
O golpe fracassado contra Chávez em 2002 e a própria morte do líder venezuelano tiveram a CIA por trás. As principais aliadas dos EUA na desestabilização de governos democráticos e progressistas no mundo são sempre as elites mais reacionárias de cada um desses países, em particular os barões e magnatas das suas oligarquias midiáticas. Não é mais segredo para ninguém que a maior parte da mídia brasileira em 1964 apoiou o golpe de Estado contra João Goulart, que a família proprietária da Folha de São Paulo fornecia automóveis da empresa para os torturadores da ditadura militar brasileira da OBAN transportarem suas vítimas ou que a Rede Globo cresceu e se enriqueceu servindo os generais.
Pois bem. Mais quatro anos de Dilma e PT no poder não é de interesse dos grandes grupos internacionais de olho no Pré-Sal tampouco dos setores conservadores brasileiros que não aceitam até hoje as mudanças sociais promovidas a partir do primeiro governo Lula. Antes da onda de protestos, a pouco mais de um ano das eleições presidenciais de 2014, Dilma governava tranquila, do alto dos seus 60% de aprovação popular.
Aumento da renda, diminuição cada vez maior das desigualdades sociais, taxa de desemprego de fazer inveja aos arrogantes europeus. Com esse quadro, como então evitar a vitória de Dilma logo no primeiro turno de 2014, como as pesquisas apontavam?
Tendo na grande mídia a sua principal arma, a estratégia dos setores mais hostis a Dilma a princípio foi tentar criar um clima artificial de terror e insatisfação popular no país. Nas manchetes, capas e telejornais, o mantra foi a escalada da violência e a corrupção, a corrupção e escalada da violência. Não adiantou. Dilma manteve-se intacta. Aí inventaram, e a grande mídia fez propagar, a estória da escalada do preço do tomate (vide o colar de tomates de Ana Maria Braga), o que também não foi muito eficaz para derrubar os índices de Dilma. A pior direita então radicalizou: fez alastrar o boato do fim do Bolsa Família. Jogo sujo...
A iniciativa provocou danos ao governo, mesmo assim não o suficiente para diminuir a aprovação de Dilma. Na sequência, a grande mídia criou um clima ainda mais pesado, dramático mesmo, de volta da inflação e de descontrole da economia por parte da equipe econômica da presidenta. Violência, corrupção, volta da inflação passaram a ser a pauta dos principais telejornais e revistas do país. Foi quando a aprovação de Dilma, segundo as pesquisas, começou a cair.
É nesse contexto que o MPL, numa micareta esquerdista, resolve parar São Paulo. Não só parou São Paulo, como os desdobramentos das suas manifestações despertaram o "gigante", o monstro do fascismo latente e ressentido com as políticas sociais de dez anos de governo do PT, que foi às ruas contra tudo o que de mais democrático e progressista foi construído na era pós-ditadura militar. Quem teve a oportunidade de participar das manifestações da avenida Paulista, por exemplo, no momento de ascenso da direita em meio à onda de protestos, presenciou o ódio de classe explícito daquela velha classe média que não aceita a ascensão social e o acesso das pessoas que saíram da miséria e da pobreza a bens que antes só ela podia desfrutar (telefone celular, automóveis, ensino superior, notebooks, viagens de avião, etc).
Não faltaram cartazes contra o Bolsa Família ("Bolsa esmola", no jargão neofascista), contra as leis trabalhistas favoráveis às empregadas domésticas ("Vou despedir a minha empregada! A Dilma é culpada!", dizia um cartaz de uma madame embrulhada numa bandeira nacional), contra o ENEM, contra as cotas e alguns muito estranhos: "Contra a PEC 37! Quero o meu dinheiro de volta!".
As manifestações continuam, apesar de enfraquecidas. Dispersas, confusas, grotescas, vagas e sem foco, a maior parte delas careceu de politização, foi obra de manipulação midiática, de massa de manobra de Facebook e Twitter. A insistência no vandalismo, a participação de empresários investindo em greves, como a dos caminhoneiros, e a cobertura venenosa da grande mídia contra o governo federal é preocupante e fomenta a teoria da conspiração, que em política é imprudente tratá-la como piada. No ápice dos protestos a intenção dos setores contrários a Dilma era clara, como a grande mídia não conseguiu esconder: inflamá-los ao máximo e multiplicá-los mais e mais para que se instalasse no país um clima de instabilidade política, caos e de vazio de poder.
Se Dilma não caiu naquele momento difícil, seu governo, por outro lado, foi gravemente ferido. As últimas pesquisas mostram que a sua aprovação já não é mais a mesma de antes dos protestos. Por conseguinte, sua base no Congresso está se fragmentando. Certamente, as imagens desses episódios serão utilizados à exaustão na propaganda eleitoral do ano que vem pelos seus adversários, sobretudo por Aécio Neves, José Serra e Marina Silva. É quando essa pior direita enfrentará Dilma (quem sabe Lula) com baixíssimos índices de popularidade, ainda sangrando pelos acontecimentos. É para Maquiavel aprender.
3 comentários:
Caro amigo
A mídia fez uma gama pesquisas de opinião pública na massa manifestante jovem amplamente desfavorável ao governo Dilma ( sempre os 1.700 pesquisados). A pesquisa foi dirigida e não é isenta, está cheia de vícios. Em estatística, voce pode criar resultados diferentes dos verídicos.
Dilma tem a aprovação de mais de 70%
do povo que quer médicos nos postos de saúde. Ela tem 93% de aprovação com o bolsa familia e 80% com o Enem.
Veja que os numeros são diferentes para cada grupo mas são unânimes.
Dilma respondeu como estadista a voz das ruas e com a grandeza de uma brasileira vítima de tortura, tem o apoio do povo que não foi na manifestações, pois estáva a mais de 30 anos acordado, trabalhando, para manter os recem acordados despolitizados agentes sem noção da direita extremista.
Mas o que me dizem ,das reformas ou dos gastos exagerados com os estádios de futebol?então ,o povão estão errados ,e o governo certo?e o salario dos professores,dos aposentados,dos médicos?o aumento da inflação,quer dizer que não faz jus ,as manifestações pacíficas?pra gastar com a saúde,não pode?pra investir na educação não tem dinheiro?ou não tem retorno?o dinheiro público tem que ser gastado com o público de uma maneira correta e transparente,justa!Agora dizer ou ignorar a situação no presente momento ,é bem macabro,dizer que estão tentando derrubar alguém,prejudicar alguém. Até agora o prejudicado e lesado está sendo o povão,pois somos nós é quem pagamos o pato !Na área da saúde, e da educação,tem que haver sim uma reforma urgente no parlamentar,no constituinte,e com urgência,antes que o povão abra falência múltipla,por sustentar no topo aos que sem espírito democrático assumem acada dia um patamar de filosofias voltada para o descompromisso com a sociedade.Mas visando se alto beneficiar,pois o verdadeiro patriota se preciso for "morre",mas não deixa ser levado pelo o a comodismo,vendo tudo indo indo por água abaixo e dizer que é questão da mídia ,como se não fosse real o presente momento de decadência partidária. Deve-se de punir a quem merece punição,sanar o problema e não ocultá-lo,e nem quere e já prever o mandato futuro,pois é o povo quem escolhe , a quem achar melhor e de direito a votar,uma democracia não se faz justificando pelos erros dos outros ,mas sim pondo em pratos limpos o ocorrido!Não há como esconder aquilo que está patente e nu aos nossos olhos !Sou contra anarquia,bagunças mas sou a favor dos direitos de uma sociedade que opina por eleger de uma maneira livre e clara, qualquer que seja esse ser ,que lhe é constituído a ele a autoridade de governar,mediante a nossa nação!Não dá mais pra ficar elegendo partidarismos,é hora de acordar-nos para um plenário de confiança!ou então acabaria aqui todos o nossos sonhos de que um dia alguém bradou:LIBERTAS QUE SERAS TAMEM. OU ORDEM E PROGRESSO!
Sinceramente,
"fábula do mensalão" foi demais...
Tente ser um pouco mais imparcial da próxima vez!
Todo o radicalismo é burro, e suas opiniões totalmente parciais são de chorar. Dilma e Lula são os paladinos da justiça? Por favor, nos poupe! Eu não tenho partido. Para mim, todos os partidos políticos são corruptos, nenhum se salva. Enfim, li pela primeira vez esse blog e perdi meu tempo! Abraços. Sergio
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